Saúde
Você sabe o que é 'higiene do sono'? II
Os segredos do sono
Causas da falta de sono
Convidamos a neurologista Renata Areza - Membro da Academia Brasileira de Neurologia - ABN - para esclarecer particularidades do sono e seus impactos na saúde. Indagada sobre as causas da insônia, ela explicou que o motivo mais comum é a ansiedade: "A pessoa ansiosa se sente angustiada, nervosa, preocupada, antecipa problemas (e possíveis soluções) e acaba não conseguindo relaxar para dormir. Quando, por fim, consegue adormecer, a qualidade do sono já não é a mesma. A quantidade de sono profundo é reduzida, e a pessoa acorda cansada, como se tivesse trabalhado a noite toda, ou seja, o sono não é reparador".
A médica também destacou outros motivos recorrentes para os insones: depressão, distúrbios do humor, doenças neurológicas, doenças clínicas, medicações, álcool, drogas ilícitas e alterações na higiene do sono.
Também é importante lembrar aqui a questão da hipersonia (tendência a maior intensidade de sono durante o dia, até pelo estado "elétrico" da pessoa de hábitos noturnos em seu horário habitual de vivências). Outro aspecto digno de nota, de acordo com recomendação da especialista, é verificar bem a causa da possível insônia, a fim de que não sejam ministrados medicamentos sem maior necessidade, uma vez que estes trazem malefícios em longo prazo.
Medidas para a higiene do sono
Você já ouviu algo sobre "higiene do sono"? Muitas pessoas resolvem seus problemas de sono somente com a modificação dos hábitos relacionados ao horário de adormecer e à sua manutenção. Renata Areza indica um conjunto de medidas simples para melhoria da qualidade e da quantidade do sono, sem medicações. Destaque para estas:
· Não ingerir bebidas com cafeína a partir das 15/16h ou outros tipos de bebidas estimulantes;
· Não fazer refeições pesadas em horário próximo ao do sono, ou seja, evitar alimentos que contenham muitas proteínas ou gorduras (o indicado é, mesmo, uma leve ceia, com itens como: um copo de leite, leite com cereais, iogurte, uma fruta, suco, uma fatia de pão com queijo etc.);
· Não fazer exercícios físicos de 3 a 4 horas antes de ir dormir;
· Escolher roupas confortáveis e adequadas para o clima;
· Não deixar luzes acesas;
· Não ingerir bebidas alcoólicas logo antes de adormecer;
· Escolher atividades relaxantes para fazer antes de dormir (como ler um livro ou escutar uma música leve e agradável em volume baixo).
Consequências da insônia
· De acordo com a especialista entrevistada - que também é Membro do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN -, a falta de sono traz consequências agudas e crônicas. Após uma noite mal dormida podem aparecer mal-estar, irritabilidade, sonolência, tontura e, sem dúvida, prejuízos de atenção, o que pode causar riscos à vida da pessoa, principalmente se está dirigindo ou operando máquinas. E, depois de muitas noites mal dormidas, vão surgindo as consequências crônicas: depressão, dores no corpo, queda de imunidade e problemas decorrentes, com infecções e inflamações frequentes, entre outras.
Afinal, quantas horas diárias de sono são necessárias?
· Apesar da recomendação média de 7/8 horas diárias de sono, já se sabe que o relógio biológico varia de indivíduo para indivíduo, o que costuma dividir as pessoas entre as apreciadoras da noite, as do dia e as que conseguem se adaptar a ambos os horários. O empresário, Relações Públicas e produtor cultural Alberto Bardawil, por exemplo, apresenta essa versatilidade:
· "Meu trabalho me leva, várias vezes, a ficar muitas noites acordado. Por outro lado, acordo cedo independente da hora em que vou dormir. Apesar da intensa movimentação de trabalho noturno, gosto do sol e de saber que estou começando cedo o meu dia".
· Mas nem todos alcançam esse equilíbrio; muita gente preferiria começar o seu "turno diário" mais tarde. Por causa disso, ultimamente vem sendo difundido o conceito de Sociedade-B (Instituto B-Samfundet), que obedeceria a uma nova configuração cotidiana de serviços e funcionalidade - "o mundo acontecendo em horário alternativo", favorecendo dessa vez os notívagos: escolas, departamentos de trabalho e centros de compras iniciando mais tarde suas atividades. A respeito, Renata Areza também sugere: "Seria muito mais democrático se houvesse alternativas concretas para as pessoas que têm esse padrão de sono noturno. Poderiam existir serviços de delivery que funcionassem à noite, academias, restaurantes, cinemas com sessões durante a madrugada, comércio e serviços em geral".
Em benefício dos "atípicos do sono"
· Opções semelhantes às propostas da Sociedade-B (inicialmente implementadas na Dinamarca) já estão em prática em vários países europeus. Em alguns também se instituiu a siesta em certos setores de trabalho, por exemplo. Sim, a famosa "sesta" de antigamente - ou seja, aquele descanso rápido após o almoço - foi reinstalada. O sistema funciona assim: as pessoas vão para casa dormir; o comércio fecha (e também se interrompem, provisoriamente, outras atividades), e tudo é retomado mais tarde, após as tais pausas revigoradoras. É claro que, de acordo com essa dinâmica, o expediente termina bem mais tarde. Essa espécie de ensaio para uma tal - e opcional - Sociedade-B plena tem apresentado resultados excelentes na elevação de quesitos de desempenho e produtividade. E você, gostaria de ver essa remodelação também no Brasil?
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